CONTOS DE ENE:
QUANTO MAIS VOCÊ PRENDE, MAIS SE SOLTA
Parece que há discordância com a física, mas na verdade isso é uma lei da
física, toda ação gera uma reação, igual ou contrária.
Eu por exemplo, tive
uma infância toda regrada, não podia brincar na rua, não conseguia fazer
amigos, tinha que pedir pra pegar o controle remoto da TV, pois estava alto de
mais para eu conseguir alcançar. Até a geladeira eu tinha que pedir permissão
pra abrir e beber água. Não que tudo isso seja errado, até porque no mundo de
hoje em dia criança fora de casa é um perigo e deve obedecer mesmo os pais,
porque é para o seu bem. E quando o cuidado evolui pra super-proteção? Há dois
caminhos que o moleque toma: Vira um nerd sem graça ou um precipitado sem causa.
Eu me tornei os dois.
Como nerd, eu fazia
o dever de casa sozinho, engolia os livros, esquecia a TV, estudava duas
semanas antes das provas, eu era o líder (chato) dos trabalhos e não via os
colegas do meu grupo com a minha mesma empolgação pra trabalhar.
Eu não tinha
diversão, eu não podia fazer amizade de mais com as pessoas, eu fui ensinado
que elas são falsas e perigosas. E em algum momento eu tive que concordar por
experiência sofrida. Eu era o Nerd, o queridinho da professora. O mais odiado da sala. Fora da escola eu era
só um garotinho que nunca sai de casa. Nem meus vizinhos não me viam, eu fui um
pintinho que nunca saia debaixo das asas da minha mãe, não saia de casa sem ela,
até depois que cresceram meus pêlos pubianos e meu bigode (Claro, eu raspava).
Mas olha, até os 18 anos de idade eu era o tédio da família. Nunca tinha
beijado, morria na mão mesmo, lan house só depois de adolescente. E quando eu
me soltei... foi um Deus nos acuda!
Eu dormia fora de
casa, e toda oportunidade eu transava era uma festa só entre amigos e
desconhecidos. As vezes eu só chegava pela manhã quando não chegava meio dia. Se chegasse a meia noite
ou as duas da manhã, acordava aos gritos minha mãe lá de dentro pra ela abrir a
porta de casa sobre os berros de meu pai, ora, não era mais hora para um rapaz
decente voltar para casa. Mas eu não era mais um rapaz decente. Só queria saber
de namorar, sair escondido, sem hora pra voltar pra casa nos finais de
semana,só o que eu não fazia mesmo era me drogar, fumar, beber, me tatuar...Eu
só gozei a vida com experiências novas. Eu não iria poluir o meu corpo com essas
coisas (Não gosto) Mesmo assim a polêmica na minha família rendeu. Um garotinho
(que já não era mais um desde os treze anos). ”É como se eu tivesse recuperado
o tempo perdido”. -Cláudia Leite, eu extravasei- Adiantou prender de
mais?Conheço vários adolescentes que foram criados sob muito controle e que
depois chutaram o pau da barraca.
Como educação é algo
que não tem padrão e se atualiza conforme a época, um conselho... Converse com
o seu filho, seja pai-amigo, tente participar das coisas dele na escola, nos
eventos que ele participa, procure conhecer e seja amigo dos pais dos amigos
dele. Deixe ele sair com os amigos sem o bombardeá-lo de perguntas, aconselhe
sem ser chata, por que mais difícil é se reaproximar dos filhos.GAGA estava
certa”A confiança é como um espelho,
podemos repará-lo, se estiver partido, mas sempre vamos ver porcaria da falha
no reflexo”.Todos os pais passaram por essa fase rebelde um dia, como tudo
na vida é uma fase, respeite essa fase. Sei que é difícil e não sabemos quando
essa rebeldia dura, conversar com o seu filho ameniza essa ansiedade. Minha mãe
começou a entender isso e por incrível que pareçamos conversávamos sobre (quase) tudo, quase... porque eu tenho direito
de ter intimidades e segredos e tudo.. o que ela precisava saber como mãe.Tá!
Voltar no outro dia nenhuma mãe aplaude isso, mas quando eu chegava, ela
abafava o caso por hora e puxava o assunto noutra hora que ambos estivéssemos
mais próximos, então um assunto que
poderia terminar em brigas e xingamentos, acabava com meus pedidos de desculpas,
conselhos relax dela e minhas promessas de que chegaria mais cedo da próxima
vez. Verdades ou não ela acreditava (ou fingia), mas o importante é cortar
os escândalos, isso difama e separa uma família. Enfim, com o tempo, eu comecei
a chegar numa hora aceitável. Aos 20 anos já ia pra cama às nove da noite para
acordar as cinco pra ir para a emissora de rádio que trabalho. Eu não estava
sendo o novo filhinho da mamãe, estava voltando a respeitar os donos da casa. E
ainda discutimos, mas não por causa do horário que eu chego em casa.Eles já sabem que pode confiar no filho
responsável que tem.
Ainda sou jovem e muito a aprender com meus pais. Do
mesmo jeito eles também tiraram lições sobre educar um filho nos últimos anos. Me viram voar para o mundo, e dói para um pai quando seu filho corre
para muito longe do ninho ou da gaiola. Mas eu sempre pousava em casa, sóbrio e
cheio de experiências do mundo de fora.
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