CONTOS DE ENE:
Vencemos a discriminação e mostramos que também podemos.
Levei um fora de uns
cachos dourados ontem a tarde. Eu tinha falado com ela a uma semana e ela me
disse sim, mas ontem ela mandou um recado pela irmã caçula que não poderia mais
dançar comigo. Isso mesmo, dançar, se você achou que fosso outra coisa. A
pequena disse que a irmã estava cuidando dos preparativos para o casamento. Eu
estava muito animado, os ensaios, a dança, a nossa apresentação foi a única
razão pelo qual a gente voltou a se falar, depois de mais de seis meses
(intrigados). Mas deixa pra lá, que ela seja feliz com o seu amor. Porém ela
continua aqui no meu conto.
Há menos de um ano ela
começou a freqüentar o nosso centro. Tinha problemas com o pai e as vezes ela
passava mal.Por meio de uma amiga, ela conheceu nossa orientadora e encontrou
apoio psicológico e amigos como eu.
Repito: Não vamos aqui
julgar ninguém. Cada um dos que estão nessa história já sofreram o bastante.
Era começo do ano, Fazíamos
eventos dentro da casa e já programávamos outro. Nossa orientadora pensou em
fazer algo social, que tivesse a presença da comunidade. Ela teve a idéia de
encenarmos a Paixão de Cristo. Na rua. E seguido de outras apresentações
culturais. Era Fevereiro e já corríamos feitos loucos, atrás de patrocínio, íamos
para casas de tecido pedindo doação para as roupas dos discípulos, pedíamos apoio
a políticos. Foi muito difícil conseguir o ônibus que trouxe os capoeiristas e
outros artistas da cidade que nos deram a honra e o seu tempo para se
apresentar em ar livre para a nossa comunidade de Uruquê. Foi lindo e ninguém
tinha feito isso antes. E alguns azedos do bairro ainda falavam que não poderíamos
fazer isso, pois não era o nosso papel ou não tinhas condições. Mas fizemos, começamos
a via-sacra de um ponto do Uruquê e chegamos até a casa. Todos atores e
figurantes acompanhando o cristo, e a comunidade seguia logo atrás como numa
romaria, ansiosos para ver como seria a chegada. Soube até que minha mãe chorou
quando me viu trazendo a cruz nas costas. Sim, o papel principal era o meu. O
mais difícil que eu já peguei, a cruz era quase do meu peso, tinha 40 kg, a caminhada
era de um quilometro, curvado e descalço, cheguei com o ombro vermelho e ainda
tinha três coreografias para eu apresentar, um gospel com as crianças, um axé
de duplas e um tango que dancei com minha amiga dos cabelos loiros. Em que eu
ainda tive que pega-la nos braços e segura-la no fim do tango, Foi um março,
muito difícil, mas gratificante para qualquer artista, cristão ou individuo que
participasse dessas coisas.
Ai, você me pergunta: Não
tem foto não tem vídeo? Tem. Mas não tenho mais acesso, não frequento mais o centro.
Fiquei só até uma semana após a sexta-feira santa de março de 2013. Por quê? Eu
conto no próximo conto.
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