CONTOS DE ENE:
Nossos problemas se tornam menores quando vistos de outros ângulos
Desabafo, alívio, frutos
são algumas das três coisas que achamos em uma igreja, instituição, ou num
centro espiritual. Não vamos aqui debater fé de ninguém. Eu tenho a minha
religião e cada um tem a sua, alguns não tem nenhuma. Mas o assunto aqui é
sobre escolhas e descobertas que eu fiz que poderia ter acontecido em qualquer
instituição ou igreja.Mas o lugar especifico aqui foi um centro de umbanda.Algum
problema pra você? Não!? Então prossigamos.
Era a minha segunda casa -e como não
seria?-Era onde eu me sentia bem, pra conversar, ouvir, rir, chorar, me
respeitavam como eu era. E eu aprendi a também a respeitar os outros com todos
os seus defeitos e lá aprendi mais ainda com os dois orientadores da casa. O
casal era o mais próximo do perfeito. Ele como orientador era amigo, justo e generoso,
tinha o domínio da palavra, segurança e liderança, dificilmente algo o tirava
do sério. Ela, a esposa era a devoção e dedicação em pessoa. Sempre nos recebia
e nos atendia bem, suas palavras soavam como um colo materno e as vezes como
uma mãe mesmo, que nos dava aquela bronca.Conversava sobre tudo e seus
ensinamentos era sobre viver e deixar viver. Disso ela entendia bem, pois ela
tinha passado muitas tristezas na vida, cuidava quando criança dos irmãos no
interior do sertão do Piauí. Os pais acabaram morrendo por um motivo muito
trágico e ela teve que deixar a escola para trabalhar e cuidar dos menores. Quase
aos quarenta já estava no segundo casamento, o primeiro era uma prisão e não
vou mais me aprofundar nesse assunto, pois não cabe aqui alimentar meu blog com
desgraças alheias, mas quando ela falava já sabíamos que ela tinha passado por
aquilo na pele. Mas nos sorria e víamos que todo problema é superável. Tínhamos
que dividir a sua atenção com os seus três filhos, um casal de jovens que não
morava mais com a mãe, e um pequeno fruto da união com o nosso orientador. E
entre um mingau e outro, uma costura e outra, uma peça de roupa que alguém
trazia encima da hora para concertar. Um filho pedindo ajuda e outro visitando
a mãe. Ela sempre se doava para os filhos de santo. Um deles era eu, voltava do
trabalho e ia direto para o centro, onde eu desabafava as minhas crises
familiares, financeiras e pessoais, mesmo quando eu chegava na porta ao ponto
de explodir e chorar, eu me sentia aliviado quando nosso orientador me ouvia e
nossa orientadora me abraçava. Na dor eu tinha apoio, na raiva eu tinha como
descarregar os nervos e na alegria eu tinha com quem compartilhar. E meus
problemas pareciam menores quando eu via pessoas entrando com problemas maiores
naquela casa. Claro que pra enfrentar a minha mãe é preciso saber domar um
leão, mas eu via pessoas chegando naquela casa pessoas com problemas de saúde,
já desenganados pelos médicos, pessoas com traumas emocionais fortes, coisas
que me faziam agradecer a Deus por não sofrer aquelas dores. Por mais que eu
chegasse irritado e chorando algumas vezes, eu depois enxergava minha vida de
um ângulo melhor. Mas alegria de uns é tristeza pra outros. Minha mãe ficava
com ciúmes, mães escorpianas querem logo saber por que os filhos chegam
sorridentes em casa. O que houve? Com quem estava? Fazendo o quê?Mães de
escorpião são irritadiças quanto ao dialogo, são curiosíssimas e muito
tradicionais. Enfim, ela fazia questão de ir ao centro saber com quem eu estava
me envolvendo e o que eu fazia lá. Típico de mães muito zelosas. E ela não
gostou nadinha quando eu me tornei um líder de jovens. Isso mesmo, me deram
essa responsabilidade devido ao centro as vezes ficar muito lotado com as
crianças e os adolescentes. Nosso orientador já trabalhava com os jovens desde
a origem do centro no meu bairro, mas na minha época já não podia tomar de
conta sozinho e pediu ajuda a sua esposa. Ela se dividia entre as máquinas,
suas responsabilidades no congar (o altar e as oferendas) e o grupo jovem, nos
juntávamos em circulo pra falar sobre nós mesmos, nossa família, nossa vida,
nosso sonhos e ela trazia essa realidade para falar sobre valores, respeito,
humildade e fé cristã. Era lindo como ela nos ensinava e a ouvíamos melhor que
ouvíamos nossos pais, reclamando de tudo, nos interrogando, nos julgando, ela
não, ela sabia como se chegar até nós. Ele, a essa altura estava fazendo
visitas ao mais carentes, não vou negar que comecei a admira-lo mais ainda
depois que ele visitava dependentes químicos e os orientava para abandonar o
vicio, ele botava mesmo a mão na massa, ia até a casa do sujeito falava com ele
e o levava até o centro.Mesmo sobre as ameaças de traficantes, pois você mexer
com drogado é algo sério, tentar tirar o ganha pão do trafico que são as
pessoas dependentes químicas é ousado para esse mercado, arriscado e exige
coragem, não é todo pastor espiritual que entra na favela e se expõe a esse
perigo, ele ia lá e fazia conforme o se coração mandava. Ele também visitava um
senhor de idade que a família já não cuidava e nem ligava pra saúde dele, mas
ele ia lá, dava chá, orava por ele, o banhava, não era o seu dever, mas era sua
missão na terra. O mesmo senhor morreu no sábado de Aleluia, mesmo triste nosso
orientador sabia que tinha feito a sua parte. Ele também se juntava com o nosso
grupo as vezes para nos mobilizar para irmos de casa em casa pedindo um quilo
de alimento para crianças abandonadas, é verdade, garanto! Eu ia e ficava muito
satisfeito com esse trabalho social. E você recrutar (no bom sentido) jovens
para exercer cidadania hoje em dia quando ao invés disso poderia estar no
Facebook é uma arte, Mas a missão da nossa orientadora e a minha era ameninar o
trabalho dele, era cuidar de uma parte do grupo que estava crescendo, porém que
não tinha tanta necessidade, quanto as criancinhas e os idosos que ele visitava.
Mas além de nós dois tinha outra amiga, uma terceira, e nós três fora ele que
zelava pela manutenção do centro, orientando os mais jovens e se mexendo com
eles para ir atrás de recursos para o centro e para doação, como já disse. Era
uma trindade que funcionava muito bem, a nossa orientadora era como a mãe, eu
como o tio e a outra a tia (apelido que pegou por se professora). E um quarteto
se você incluí-lo. Dois casais e uma missão manter uma religião que não faz mal
a ninguém, mas que infelizmente é muito mal divulgada (opiniões a parte, se
você concorda ou não é outra estória). Mas a semana santa vai nos marcar para
sempre. O que aconteceu?Próximo conto eu conto...
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